terça-feira, outubro 03, 2006

Todo artista...



Existem dias na vida de qualquer artista, grandioso ou desacreditado, em que a inspiração não consegue finalizar.
Nenhum pensamento transforma-se em arte. Pura, bela... ARTE. Nada é digno o bastante.
As idéias tendem à não conclusão e o objeto de tanto trabalho é apenas uma metade.

Existem dias, na vida de qualquer poeta...
Dias assim.
Todo o corpo textual criado é desfavorecido por uma autocrítica que inspira comiseração. Nenhum escrito é merecedor de análise extra-criador.

Todo poeta passa por isso, todo artista passa por esse momento. Todo artista é poeta, todo poeta é artista! VIVA!
E o circo não tem mais aquela beleza. A vida não tem mais aquela beleza. As palavras não são mais tão belas. Não o quanto quisera que fosse, pois por serem palavras são já em sua natureza: belas... (Aspas à vida).

E há um medo. Medo incomum de que algum passante-viajante-itinerante leia os esboços mal escritos.
Esboços de uma obra que nunca findará. E nunca finda.
Estão espalhados pelos cantos da sala. Pelos cantos do quarto. Entre as folhas de um caderno colorido.

Há um medo.
Não que o poeta se menospreze ou menospreze aquilo que um dia escreveu...
Creio que, assim como quando conversou comigo, Virginia os tocou... De uma forma ou de outra... A todos: artistas poetas, poetas artistas. Com a mesma mensagem, na mesma linguagem. Bela e arrasadora:

"Devemos modelar as nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Os pensamentos são divinos".

Os pensamentos são divinos...

Sim... Há uma angústia, há um medo, um temor sem ou com preceitos.
Não, não creio que seja eu um ser tão nobre a ponto de possuir pensamentos divinos... Meus pensamentos são divinos? A vida é, realmente, entre aspas...

Interessante é que tudo parece fluir quando as coisas estão bem. Ou quando estão ruins, também.

E existem dias assim...

Outro dia ao papear com Veríssimo reconheci que quando é morna a vida há um quase que incomoda, que entristece e que mata trazendo tudo o que poderia ter sido e não foi...

Foi aí que descobri o mundo.

Imagem: Angústia(A Mãe do Artista) de David Alfaro Siqueiros.